O Beato Januário Maria Sarnelli (1702-1744), missionário redentorista e amigo de Santo Afonso, pode ser considerado um “sinal de esperança” para os excluídos, os sem esperanças de seu tempo, de modo especial, exerceu este ministério através de seu trabalho em defesa das mulheres marginalizadas, na atenção as crianças abandonadas e sem instrução e na evangelização dos pobres operários. Sarnelli soube inventar novas formas de viver o carisma e a missão redentorista, continuando o Redentor em meio aos abandonados de seu tempo, acentuando acima de tudo, o caráter social do carisma redentorista. Sarnelli soube também usar novos meios para a evangelização, valendo-se principalmente do apostolado da imprensa, da instrução aos leigos e da missão popular. Em sua beatificação, o Papa João Paulo II, assim se expressou: “Januário Maria Sarnelli pode ser proposto à comunidade cristã de hoje, no limiar do novo milênio, como exemplo de apóstolo aberto a aceitar toda inovação útil para o anúncio missionário da perene mensagem de salvação”.
O zelo apostólico de Sarnelli não o permitia descansar. Sempre estava envolvido com varias atividades, pregando, atendendo confissões ou escrevendo. Muitas vezes sem ao menos ter tempo para comer ou dormir. Embora sua saúde fosse sempre frágil, continuou sua obra apostólica e espiritual e dizia para aqueles que lhe aconselhavam repouso: “Se fosse trabalhar somente quando estou bem de saúde, pouco ou nada teria feito até agora, ou nada faria daqui para adiante. Como é maravilhoso sacrificar a vida por Deus”. Januário Sarnelli não media esforços para ajudar seus abandonados, para dar-lhes de comer privava-se até do próprio alimento, pedia esmolas, mesmo sendo de família nobre. Deixava tudo o que estava fazendo para atender a quem mais precisasse.
A grande preocupação de Sarnelli era a de “ajudar o ser humano a recuperar e a viver o sentido pleno profundo da própria dignidade humana”. Por isso, toda obra de Sarnelli está centrada em torno do grande amor de Deus por nós, revelado na Trindade, que transforma nossas mazelas humanas e restaura nossa dignidade de filhos, como bem expressa em seus escritos: “A razão humana desenha o próximo como ele é em sua natureza. A razão da fé o pinta como ele é em Deus”.
A principal obra pastoral de Sarnelli se dá em torno da defesa das meninas em perigo de prostituição e das mulheres marginalizadas, pois se calculava em torno de 30 a 40 mil prostitutas em Nápoles (10% da população). Escreve denunciando esta triste realidade e pressiona as autoridades civis e eclesiásticas para tomarem atitudes concretas e eficientes para sanar esta situação. Defendia a formação e instrução do povo para melhorar a sociedade. Por trabalhar com as prostitutas, Januário Sarnelli correu muitos perigos, arriscou varias vezes sua própria vida, sendo ameaçados por aqueles que se aproveitavam da exploração das mulheres. Apesar disso, dizia que para este tipo de apostolado e para a maior glória de Deus daria até a própria vida.
“A esperança não decepciona” (Rom 5, 5), esta palavra foi plenamente realizada na vida e na obra do Beato Januário Maria Sarnelli. Mesmo que tenha vivido pouco tempo, pois morreu aos 42 anos de idade, atingiu em sua vida a plenitude de uma vida longa, ungida por uma esperança inquebrantável, que o tornou capaz de ser sinal desta mesma esperança para os últimos de seu tempo. Diante do testemunho desse grande homem de fé e esperança, é preciso nos questionar sobre nosso modo de ser redentorista, se realmente estamos indo em direção aos “sem esperança”, aos abandonados, levando-os a uma verdadeira experiência de Redenção, razão de ser de nossa vida e missão.
Fráter Rodrigo Costa, C.SS.R.