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COMO LIDAR COM O MEDO

Já descrito por muitos psicólogos e psicanalistas, o medo é um mal necessário na medida em que necessitamos dele para tomarmos atitudes de prevenção e conservação da vida. Por exemplo, a criança quando começa a andar e cai, começa a perceber limites, ou então, quando coloca o dedo na tomada e leve um choque, aprende a não repedir aquela ação. O que caracteriza o medo é quando o sujeito se prepara para uma ação de enfrentamento de algo ameaçador.


O medo proporciona sinais corporais em nós que intensificam o foco de atenção, sempre nos levam ao ataque ou ao recuo. O medo sempre causou na história da humanidade ansiedade, angústia, tensão, insegurança e, em alguns momentos, desespero.


Na antiguidade, quem não teve medo de ser escravizado, exilado, vendido e tendo que deixar o ambiente familiar? Mesmo aqueles que se consideravam donos do mundo tinham medo de morrer numa guerra ou por uma doença qualquer. Basta ver os relatos Bíblicos da História do Povo de Israel e perceber que o medo é algo que perpassa gerações.


Quem, por exemplo, que não teme um agressor que usa da violência física para demonstrar o seu autoritarismo e até a posse do outro? Quem não tem medo de viver num País que não oferece segurança individual e comunitária? Na visão da Sociologia, o Estado precisa dar segurança ao seu cidadão. Um Estado de segurança ajuda o sujeito que vive sob esse teto a não entrar em pânico. As pessoas precisam ter elementos subjetivos para manter o medo dentro de si de modo equilibrado e não entrar numa situação total ou quase total de instabilidade e em alguns casos até doentio.


Segundo o filósofo Martin Buber, elementos de proteção em algumas décadas passadas eram encontrados no próprio seio familiar. A própria comunidade, formada por um núcleo com várias famílias, em que todas se conheciam, oferecia segurança. Embora existam muitos gestos de solidariedade como estamos vendo neste tempo de pandemia, esse amparado de confiança não existe mais. As famílias são vulneráveis diante de tantas situações de violência e o Estado não proporciona ações de proteção e segurança.


O medo do momento se chama Coronavírus, embora para um grande número de pessoas, esta doença não seja tanto como falam, pois há muitas pessoas que poderiam ficar em casa e simplesmente estão vagando por aí. Será que estão ainda sem noção de que essa doença é contagiosa e pode matar? Ou será que não conseguem olhar para si, para a realidade e encará-la?


Por outro lado, ficar em casa para muitos passou a ser um tédio. Conviver consigo mesmo não é fácil e nem sempre somos boas companhias para o outro e vise versa. Às vezes, é melhor sair achando que as coisas só acontecem com o outro, ao invés de ficar em casa e não poder fugir dos próprios medos. Quem pode ficar em casa deve ficar e manter os cuidados. Quem não pode, por razões especiais, deve redobrar o cuidado, pois o risco de trazer o vírus para os seus se torna maior.


O enfrentamento desse medo deve ser de modo coletivo. Façamos a nossa parte. Mas também queremos acreditar que aqueles que exercem o poder parem com a politização, com os conflitos políticos e a busca de lugares privilegiados e exerçam com competência suas responsabilidades junto ao povo ameaçado pela Covid-19. Neste momento delicado, o Brasil e o Mundo necessitam de olhares e ações de compaixão. “E daí”, senhor presidente? Se ao menos pudéssemos acreditar que o senhor respeitasse as vidas que se foram e as famílias que perderam seus entes queridos, porém nem isso se pode esperar de um falso messias transvestido de profeta, que com gestos e palavras conduz seu rebanho para ser atacado fora dos curais.


Portanto, seja como for, é preciso encarar o medo de frente. Viver um dia cada vez. Não se esqueça de quem você é, e da força que você possui. Este medo não é só seu e meu, é coletivo e no coletivo ele será vencido. Acreditamos na comunidade científica e nos incansáveis profissionais da saúde. Acreditamos na solidariedade coletiva. Acreditamos em Deus que morreu e ressuscitou por nós. Ele está no meio de nós, sofrendo com os sofredores e semeando esperança no coração do homem e da mulher que acreditam em uma nova humanidade.


Pe. Sebastião Fernandes Daniel, C.SS.R.



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