“Deus é completamente prisioneiro da liberdade que Ele nos deu”.
(Abade Pierre)
O sofrimento de Jesus
O sofrimento de Jesus, de fato, não é, antes de mais, o seu próprio sofrimento do homem crucificado, mesmo que este seja bem real com os golpes, os espinhos e os cravos. Muitos torturados antes e depois dele sofreram mais do que Ele. Não são os nossos pecados em si mesmos que ofendem horrivelmente Jesus, fazendo sangrar o seu coração sagrado. Isso foi-nos dito e redito outrora, cultivando em nós remorsos obstinados e doentios, convidando-nos a fazer penitência para reparar as nossas faltas e merecer seu perdão. Como se Jesus passasse o tempo a olhar para si próprio, dizendo: Eles fazem isso a mim! Como se gostasse de nos ver ajoelhados a seus pés, transidos de medo, quando o que Ele faz é nos esperar para a festa que tem lugar na casa do Pai.
Qual é, então, o sofrimento de Jesus?
O que faz Jesus sofrer atrozmente, o que o crucifica são os nossos sofrimentos, consequências de nossas asneiras... É demasiado estúpido atribuir aos outros a causa deste sofrimento, quando dos instintos desenfreados do egoísmo e do orgulho. É só ver como deixam seus irmãos morrer de fome, como disputam e lutam como cães, como se ferem e se matam. Jesus sofre estes sofrimentos, dos menores aos maiores. Atrozes, inomináveis. Todos: os de ontem, de hoje e de amanhã. Isso faz-lhe mal ao coração, ao corpo, porque são absurdos e nada pode contra eles por causa de nossa liberdade.
Então, como não pode suprimi-los, e por que nos ama infinitamente. Ele abraça-os, abraçando-nos. Quando se ama, sofre-se os sofrimentos dos que amamos. Essa é a verdadeira paixão de Jesus. Não a sua paixão de golpes e de sangue, mas a sua paixão de amor por nós. Ela ultrapassa infinitamente o caminho da cruz, de há dois mil anos. Atravessa o tempo e a humanidade inteira. Cabe-nos, a nós, vingar Deus deste terrível suspeito, batendo-nos, livres e ricos de Seu amor único, contra todos os sofrimentos e todas as causas destes sofrimentos. (Trecho literalmente transcrito de uma entrevista de Michel Quoist)
Pe. Jésu Assis, C.SS.R. Curvelo/MG