Por que Deus permite que tantas pessoas morram numa pandemia como esta, se Ele é o Deus da vida?
Caríssimos amigos leitores:
Depois de um tempo parados por conta da pandemia, retomamos o informativo “A Caminho com São Geraldo”. Sendo assim, retornam também as nossas reflexões. A pergunta deste mês frequentemente aparece em momentos de grande sofrimento e dificuldade, sejam estes relativos ao âmbito pessoal ou social: “Por que Deus permite o mal?”.
Certamente uma pergunta que nasce do nosso encontro reflexivo com a realidade muito concreta da vida. Eu poderia aqui citar as páginas de tantos santos que já escreveram e refletiram sobre este argumento. Contudo, escolho centrar-me na resposta que foi dada por Jesus e que encontramos manifestada na experiência de fé do povo bíblico do Antigo Testamento.
Em determinado momento da história do povo de Israel, alguns teólogos começaram a fazer a seguinte leitura: se uma pessoa é rica, tem muitos filhos e vive por muito tempo, é uma abençoada por Deus; o contrário revelaria uma forma de castigo divino. Esta era chamada de teologia da retribuição, muito parecida com o que hoje vemos chamada de teologia da “prosperidade”, comum principalmente no âmbito neo-pentecostal.
Diante das respostas frágeis de tal teologia, o povo se recorda da antiga história contada a muitos anos sobre um homem de nome Jó. Ele possuía todas as credenciais para ser chamado de um “abençoado por Deus”: era um grande fazendeiro, tinha muitos filhos e caminhava para uma velhice feliz. De repente ele perde tudo: fica pobre, os filhos morrem e adoece. Os amigos, e até a mulher dele, começam a dizer que Deus o estava castigando e que havia se esquecido dele. A resposta de Jó é incrível: “Eu sei que o meu redentor vive!”. Mesmo diante a todas as adversidades, Jó permanece fiel… A fidelidade de Jó se basa na fidelidade de Deus. Ele sabe que, apesar de tudo o que está acontecendo, Deus continua ao seu lado.
Passam-se os anos e eis que aparece um jovem que falava de Deus com autoridade, fazia coisas impressionantes e grandes milagres, mas era pobre, não tinha filhos e é assassinado aos 33 anos. Seu nome: Jesus de Nazaré. Mesmo na morte de Jesus na cruz, momento de alto sofrimento, vemos a fidelidade de um Deus que nunca abandona. O Pai está sempre ao lado do Filho, fato que se verificará definitivamente na Ressurreição dias depois. Neste movimento de amor, se manifesta também a proximidade de Deus ao sofrimento de todo ser-humano. É interessante perceber que Deus não tira ou apaga o sofrimento, mas vive-o na solidariedade misericordiosa.
Resta somente as contas que nós, homens e mulheres, temos que fazer com o mal do qual somos responsáveis. A misericórdia de Deus na cruz de Jesus traz à luz seu oposto, ou seja, as maquinações daqueles que queriam aniquilar Jesus e abafar sua voz. A presença misericordiosa de Deus nesse momento de pandemia traz também à luz algumas contas que nossa humanidade deve resolver: a qualidade das relações que estabelecemos com o ambiente em que vivemos, o nível de responsabilidade que temos uns para com os outros, a importância da vida humana acima de qualquer valor financeiro…
Creio que a pergunta a ser feita neste momento não é “onde está Deus?”, porque ele está aqui, ao nosso lado, ajudando-nos a carregar a cruz. Creio que a pergunta essencial deve ser “qual a parcela de responsabilidade que nós, humanidade, temos na intensidade deste mal?”.
Pe. Maikel Pablo Dalbem, C.SS.R.
Roma/Itália
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