top of page

Um presente para nós


Daqui a alguns dias celebraremos o natal novamente. Nossas cidades já estão enfeitadas com luzes e símbolos natalinos diversos. Impossível não se comover com a beleza e a delicadeza desta festa que mexe profundamente com nosso coração e nossas relações. Um costume bastante comum no natal é o gesto de dar e receber presentes. Prática que infelizmente já foi capturada pelo comércio, que nos bombardeia com ofertas e propagandas diversas. O gesto de presentear no natal pode ser encarado como mera convenção social, fruto das exigências do consumo, mas também pode significar amor, afeto e estima por aqueles aos quais presenteamos. Para o cristão, a Solenidade do natal tem muito a ver com presente, com o ato de trocar presentes, não por conta desta invenção moderna do mercado consumista, mas porque esta festa nos aponta para o maior presente que poderíamos receber, porque dado a nós pelo próprio Deus, como bem expressa a oração sobre as oferendas da Missa da Noite de Natal: “Acolhei, ó Deus, a oferenda da festa de hoje, na qual o céu e a terra trocam os seus dons, e dai-nos participar da divindade daquele que uniu a vós a nossa humanidade”. Em outras palavras, celebramos o dom que Deus faz de si mesmo em seu Filho Jesus Cristo. No Credo Niceno-constantinopolitano ao nos dirigirmos à pessoa do Filho, no mistério da sua encarnação, afirmamos que este mistério aconteceu “por nós e para a nossa salvação”. Deus oferece a nós aquilo que Ele tem de mais precioso, “Deus fez de seu Filho único um presente para nós, assumiu a nossa humanidade para doar-nos a sua divindade” (Bento XVI). E Ele o fez de um modo tão singelo, na simplicidade de uma criança. Este gesto nos desconcerta porque contrasta com a imagem soberana e poderosa que muitas vezes temos de Deus. Na frágil criança, envolvida em faixas e reclinada sobre uma manjedoura, porque não havia lugar melhor que este para deitar a criança (cf. Lc 2,7), Deus oferece a si mesmo, como que apelando ao nosso coração para recebê-lo nos braços, como fazem as mães que embalam seus bebês. Vindo a nós pobremente na humildade de uma criança, despido de todo poderio, Deus assume o risco da rejeição e da indiferença para comunicar-nos o seu amor sem limites, que nos cura e reestabelece a nossa dignidade perdida, e fazer-nos participar de sua comunhão amorosa: “Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado” (Is 9,5). Na pobre criança de Belém não nos foi dado, portanto, qualquer coisa, mas o próprio Filho de Deus. Ele veio para ensinar-nos como viver o projeto de Deus em nossa vida e para revelar-nos quem de fato somos para Deus: “Cristo, novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai e do seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime” (GS 22). Jesus Cristo abriu-nos um caminho, assumindo a nossa humanidade até as últimas consequências e elevando-a à condição divina. Encarnando-se, Deus não destrói o ser humano, mas deseja que este se realize plenamente em todas as suas dimensões: “O Filho de Deus se fez pequeno para fazer-nos crescer, e se entregou a nós para estimular-nos no dom de nós mesmos” (Santo Afonso). O Deus-Menino reclinado na manjedoura é apelo a todo ser humano para que este acolha o dom do Amor na própria vida, única resposta aos anseios e inquietações do coração humano.

No modo de doação de Deus encontramos o paradigma do nosso doar: “Com efeito, conheceis a generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo, que por causa de vós se fez pobre, embora fosse rico, para vos enriquecer com a sua pobreza” (2Cor 8,9). O mistério da encarnação nos impele a também dar de nós mesmos, como correspondência lógica ao dom maior que recebemos. Igualmente aqui, não se trata de oferecer qualquer coisa, mas da nossa própria vida que deve ser entrega constante e amorosa aos irmãos, a exemplo de Jesus Cristo. Só poderá fazê-lo quem possui um coração simples e humilde como das crianças, despido de toda arrogância e prepotência, e capaz de se comover pelo excesso do amor de Deus.

Fráter Rodrigo Costa, C.Ss.R


13 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page