Caro leitor, dando continuidade em nossa partilha, passamos ao segundo momento da reflexão. Espero que mesmo em poucas linhas, você consiga fazer sua reflexão pessoal sobre a orientação espiritual e a Prática de amor a Jesus Cristo, boa leitura!
II. Oração: pressuposto fundamental para a orientação espiritual
Válida é a definição segunda a qual a oração é um diálogo entre o “eu e um Tu”. É relação e por isso mesmo não pode ser tomada como monólogo. O mesmo vale para a orientação espiritual, ou seja, sem a possibilidade de relacionamento, a mesma não pode acontecer. Aqui está a noção de reciprocidade. A oração é uma dinâmica que nos faz perceber a realidade a nossa volta. Tal percepção é uma atitude contemplativa. Contemplamos o afeto de Deus por cada um de nós quando rezamos. O único movimento que se pode realizar ao ser afetado é dispor-se. A oração é o caminho insubstituível para o crescimento no amor a Deus. Ela é, em si mesma, exercício de amor, pois faz a relação com Deus acontecer. Para os cristãos, ela brota da realidade filial que nos foi dada no batismo, onde fomos configurados a Cristo pelo Espírito Santo, que nos capacita para o encontro com Deus. Sem oração, a relação com Deus não acontece, não se desenvolve, porque não respondemos a Deus através do caminho comunicativo-dialógico que ele escolheu para se dar a nós.
A orientação espiritual quer aproximar a pessoa da vontade de Deus, ajudá-la a se descobrir amada por Deus e a responder a esse amor. Por isto ela exige a vida de oração. Se seu objetivo é ajudar construir a relação com Deus, a oração se torna indispensável. Na oração temos o terreno seguro, ou melhor, sólido, para conhecer, discernir e acolher a vontade de Deus, portanto, a oração nos lança no mistério que de Deus no qual nos redescobrimos.
A verdadeira relação do “eu com o Outro”, faz a pessoa sair de si! O que pressupõe coração aberto e coragem de acolher. Na relação com Deus se faz necessária a mesma sinceridade que marca as relações interpessoais.
“É certo que um relacionamento só será bom na medida em que for boa a sua comunicação... Este é o verdadeiro sentido da autenticidade da pessoa: quando meu exterior reflete verdadeiramente o meu interior. Significa que posso ser honesto na minha comunicação com os outros [...] e preciso saber quem sou para que possa agir coerentemente, ou seja, de acordo com meu verdadeiro eu”. (POWELL, J. Porque tenho medo de dizer quem sou? Belo Horizonte: Crescer, 29ª. Ed., 2002, p. 47-48).
Na oração, a pessoa pode e deve ser si mesma. Ir a Deus sem falsidades é condição fundamental para o relacionamento com Deus possa se estabelecer sobre bases sólidas. Na oração nos deparamos com o cuidado de Deus a nosso favor. Toda compreensão do mistério de Deus é antes de tudo a realidade de um Deus que se entrega e se doa. Por amor, Deus, no Filho, se fez e se faz próximo de nós. Mas tal proximidade não se concretiza para nós se não a buscamos na oração.
A oração é um caminho natural do relacionamento com Deus. Relacionamento exigido pela orientação espiritual e, sem ela, não podemos dizer que estamos na dinâmica do acompanhamento espiritual, que visa exatamente fazer o orientando crescer na sua relação com Deus. Portanto, podemos concluir que uma das funções mais importantes do diretor espiritual é ajudar o orientando a fazer um caminho de relação com Deus através da oração. Só assim a orientação alcançará realizará sua própria razão de ser, introduzir no mistério de Deus. Se a oração não haverá crescimento consistente, pois, para Afonso:
“A oração é uma condição sine qua non da vida espiritual. Quer se trate de evitar as tentações e desolações espirituais, quer se trate de adquirir alguma das virtudes importantes para a prática de amor a Jesus Cristo em nossas vidas, nunca chegaríamos a obter uma sequer a não ser pela oração”. (BILLY, D. Copiosa Redenção: Introdução à espiritualidade de Santo Afonso. Goiânia, Ed. Scala, 1ª. Ed. 2013, p. 183).
A orientação ajuda a melhorar a qualidade da oração, para que ela se torne o motor da vida espiritual, porque nela o orante se abre ao Espírito para acolher sempre mais o mistério de Cristo em sua vida.
Marciano Vidal nos diz: “na espiritualidade afonsiana o pensamento (ideia, raciocínio, discurso) não é um fim em si mesmo. Tem a função de ‘mover’ a pessoa. Por isso necessita de sentimento” (VIDAL, M. Redenção e Moral: perspectives a partir da tradição redentorista. Espiritualidade Redentorista, Aparecida, n. 4, p. 63, 1992). Isto quer dizer que para Afonso o afeto é fundamental na relação com Deus. Não basta ficar na ideia, é preciso estabelecer uma relação afetiva e amorosa com Deus, pois não se entra no seu mistério com ideias, mas com sentimentos, que devem marcar a vida de oração. O orientador precisa estar atento a esse aspecto, sobretudo com aqueles orientandos que tendem a racionalizar demais e têm mais dificuldade para uma oração mais espontânea e afetiva, mais sincera e verdadeira, que brota do coração. Isso não quer dizer a teologia não seja necessária, mas a Deus se vai também com o coração, que é o aspecto mais importante.
A vida de oração, na perspectiva de Santo Afonso, será um dos pontos cruciais da orientação espiritual. Ela abre o cristão ao amor de Deus manifestado em Jesus e cria a possibilidade de uma resposta verdadeira. Para amar a Jesus Cristo, é preciso se deixar amar por ele. E a oração é o caminho para deixar encontrar por Deus e ser transformado por seu amor cheio de ternura e misericórdia. No próximo mês, refletiremos sobre: A redescoberta do amor e a direção espiritual. Até nossa última reflexão, rogo a São Geraldo que suplique a Deus que o abençoe!
Pe. Edson Alves da Costa, C.Ss.R