Leia a reflexão sobre Mateus 28,16-20, texto de Ana Maria Casarotti.
Celebra-se hoje a Solenidade da Santíssima Trindade. É uma festa que se nos convida a celebrar e agradecer. As três leituras que se oferecem na liturgia deste domingo ajudam a entender melhor a presença do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A conclusão do evangelho de Mateus define a missão dos discípulos e discípulas como continuação da presença de Jesus no mundo.
Na narrativa do Evangelho de hoje, escutamos que “Os onze discípulos foram para a Galileia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado.” Eles voltam para suas terras, para o lugar onde se encontraram com o Senhor. Nesse mesmo espaço que conheceram ao Senhor e experimentaram sua Boa Nova receberam também suas últimas palavras. Aos discípulos ele se faz presente e atualiza até nossos dias a missão de Jesus.
Quando viram Jesus, ajoelharam-se diante dele. Os discípulos, ao verem Jesus, se ajoelham, mas alguns ainda duvidavam. É significativo o realismo dos evangelistas que sempre deixam aberta a possibilidade de não entender ou até não aceitar o que está acontecendo.
Acabam de ver Jesus e alguns se ajoelham diante dele porque o aceitam como o Senhor Ressuscitado. Eles o reconhecem como seu Deus, seu Mestre, que continua acompanhando-os e permanece a seu lado. Jesus tinha dito: “Eu não deixarei vocês órfãos, mas voltarei para vocês” (Jo 14,18). Eles acreditam nas suas palavras e neste momento reconhecem sua presença no meio deles.
“Ainda assim, alguns duvidaram”. Neste texto do evangelista Mateus acontece diante da mesma manifestação de Jesus aparecem diferentes atitudes dos discípulos e discípulas.
Alguns deles o adoram e outros duvidam. Eles ainda não acreditam que a presença de Jesus no meio deles. É possível que ele continue guiando-os como seu Mestre e Senhor? Ao longo do Tempo Pascal, lemos diferentes manifestações de Jesus às mulheres, aos discípulos reunidos, aos que iam pelo caminho de Emaús, e a tantos outros/as, mas nem todos acreditam no imediato.
Podemos reconhecer, nessa pequena comunidade, a nossa comunidade e a Igreja onde convivem luzes e sombras?
Adorar o Senhor é resposta ao dom de sua presença e do seu Amor, que nos cativa e surpreende. Eles se ajoelham diante do Senhor! O reconhecem e acreditam nele. Mas nem sempre é fácil colocar-se de joelhos. É reconhecer-se menor e colocar tudo nas mãos daquele que consideramos nosso guia e mestre.
Neste dia peçamos ao Senhor que nos conceda esse presente que nos coloca de joelhos diante dele! Que sejamos uma comunidade de discípulos e necessitados das palavras e dos conselhos de Jesus. Uma comunidade humilde, simples, sem aparência.
Como disse Francisco, somos parte de uma “Igreja que é uma barca que ao longo da travessia deve enfrentar também ventos contrários e tempestades que ameaçam afundá-la. O que a salva não são a coragem e as qualidades de seus homens: a garantia contra o naufrágio é a fé em Cristo e em sua palavra. Esta é a garantia: a fé em Jesus e em sua palavra”. (Disponível: “A fé não é uma fuga dos problemas da vida”, Papa Francisco).
Nas palavras que Jesus nos dirige hoje está explicitado o mandato missionário da Igreja de todos os tempos: “vão e façam discípulos em todos os povos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês”.
A missão dos discípulos não é ficar olhando sua partida e simplesmente lembrando o que foi vivido. O Espírito Santo celebrado e recebido na semana passada é luz interior para descobrir sempre qual é o melhor caminho para responder a esta missão. Continua sendo assim a presença contínua que anima a Igreja desde seus inícios.
Jesus promete estar sempre com os seus: “Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo”.
As palavras “todos os dias” nos comunicam a certeza de que, em cada momento que vivemos, o Senhor está conosco! Peçamos ao Espírito Santo que nos abra os olhos para reconhecer, no hoje de nossa vida, a presença do Emanuel.
O mandato missionário de Jesus a sua Igreja nos revela o coração da Trindade. O desejo de Deus é que a humanidade participe de sua vida de comunhão para a qual fomos criados.
Assim, a missão da Igreja, que tem como centro o ser humano, se coloca a serviço, especialmente daqueles que mais precisam da centralidade e da atenção: os pobres, os marginalizados e tantas pessoas que continuam na busca de uma terra digna para seus filhos e filhas.
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Publicado pelo Instituto Humanitas, 25/05/2018.
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