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Aprofundando a nossa fé


Qual a orientação da Igreja católica sobre os métodos contraceptivos?

Para a reflexão deste mês me foi proposta uma questão muito interessante e que, com certeza, toca uma das realidades mais belas do matrimônio: a procriação. Para tentar abordar o tema de maneira satisfatória, e ao mesmo tempo veloz, como pede um artigo desta natureza, tomarei como referência o último documento sobre o assunto, ou seja, a exortação pós-sinodal Amoris Laetitia. Para tanto, devemos antes falar um pouco sobre a preocupação maior contida no documento e que perpassa todas as orientações nele contidas. O título resumido do documento já nos informa bastante: “A alegria do amor: sobre o amor na família”. Trata-se, assim, de um documento que pretende olhar a realidade do matrimônio cristão e das famílias como uma profunda comunhão de amor para o crescimento humano em todas as direções. Nos primeiro e segundo capítulos, o Papa Francisco aprofunda na direção de uma análise muito bem construída e realística sobre a realidade das famílias no mundo atual. Reconhece não somente os belos testemunhos presentes em nossos dias, mas também as dores e situações complexas pelas quais um grande número de famílias passa ultimamente. Indo mais além, consegue perceber como, em situações muito difíceis e complexas, podem florescer sinais de testemunho e de bela vivência cristã da alegria de se viver o amor em família, como é o caso, por exemplo, de algumas famílias reconstituídas em uma segunda ou terceira união, que comunicam cotidianamente verdadeiros sinais de vivência cristã. Sempre seguindo na linha reflexiva do matrimônio e da família como lugar da comunhão e da vivência do amor, os demais capítulos da exortação pós-sinodal se ocuparão em recuperar a beleza da teologia e da espiritualidade católica sobre o matrimônio, bem como apresentará caminhos pastorais de acolhimento e cura em vista das situações familiares complexas que nos são apresentadas pelo quadro apreendido principalmente nos dois primeiros capítulos. O caminho que Papa Francisco aponta será sempre o da acolhida e o do discernimento à luz da fé nas situações mais complexas, sempre visando que a comunhão amorosa e responsável entre os cônjuges e filhos seja buscada e atingida. As decisões no interior da vida do casal não virão da mera imposição exterior, como em uma falsa simplificação de respostas como “pode” ou “não pode”, mas levará sempre à consciência e ao discernimento responsável do casal no interior da comunhão conjugal. Respeita-se assim a liberdade de consciência e intimidade do casal que é chamado, com o auxílio e inseridos na comunidade eclesial, a crescer em sua relação de amor e vida. Desta forma, sempre abertos à vida, o casal é chamado a viver todos os aspectos de sua comunhão de maneira responsável, respeitosa e dialogal. Assim, no interior do relacionamento, não existem respostas prontas para as realidades particulares, mas valores a serem considerados porque constituem o próprio núcleo do matrimônio vivido na fé. Sobre os contraceptivos, no número 222 de Amoris Laetitia encontramos a recomendação para que os métodos chamados naturais sejam incentivados, uma vez que estes levam a uma experiência de comunhão e de conhecimento dos próprios corpos aos cônjuges. Contudo, sabemos que tais métodos não possuem eficácia total para todas as mulheres, e existem casos particulares que devem ser considerados. Assim, o documento não fecha a possibilidade de, no interior do discernimento responsável, os cônjuges venham a optar em consciência sobre outros métodos. Permanece como norma maior a abertura à vida e a comunhão familiar, uma realidade sempre pregada e ensinada pela Igreja como o destino mais alto do matrimônio cristão. Há somente uma clara proibição: aos métodos contraceptivos abortivos. Ou seja, permanece o valor maior e a sacralidade de toda vida.

Pe. Maikel Pablo Dalbem, C.SS.R. Roma/Itália


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