Neste tempo sombrio em que estamos vivendo devido ao avanço da Covid-19, muitas coisas estão sendo escritas. Diante do convite para que eu escrevesse uma mensagem de fé, de esperança, pensei: o que vou escrever? Mais um texto entre tantos? Então, fiz duas perguntas como ponto de partida: Qual a origem do Coronavírus? Onde Deus está?
O mais importante neste momento é olhar para a realidade com fé e esperança. Não que a fé venha responder tais perguntas, mas ela permite olhar para o futuro com confiança. A fé possibilita pensar de modo novo e transformar o medo na certeza de que juntos venceremos. Uma das palavras que mais aparece nas Sagradas Escrituras é esta: “Não tenha medo”.
Assim que começamos o tempo da quaresma, logo nos deparamos com a pandemia, ou seja, uma “praga” chamada “Coronavírus”. Quaresma, para nós cristãos, está associada a dimensão de deserto; e deserto na Bíblia é visto como lugar de provação. Não será uma travessia fácil, por isso, é importante que tenhamos calma e tranquilidade. Deus não nos abandona. “Mas pode a mãe se esquecer do seu nenê? Pode ela deixar de ter amor pelo filho de suas entranhas? Ainda que ela se esqueça, eu não me esquecerei de você (Is 49,15).
Não sabemos se teremos uma resposta, mas a pergunta sobre a origem do Coranavírius não deve calar. Assim, indagou e descreveu esse renomado cientista político, Pedro Monzó: “Em síntese, trata-se de um fenômeno anti-humano gerado, propiciado ou permitido pelos próprios humanos”. (Folha de São Paulo. Tendências e Debates, p. A3, 25/03/2020). A questão é pertinente, mas também podemos fazer outras perguntas com respostas concretas para o momento. O que eu posso fazer? Como devo lidar com essa situação?
Neste momento a casa de cada um de nós, deve ser um espaço da escuta da Palavra de Deus em família. O nosso lar deve ser Santuário da Vida. Lugar do acolhimento e do aprendizado mais intenso. Algo que, talvez, antes não tivesse acontecendo pela correria da vida moderna. Viver o aqui e agora, sem pensar no que vai acontecer daqui um mês, dois ou três. Não sabemos o que pode acontecer conosco até à noite de hoje.
Momento para os pais contar para as crianças as histórias Bíblicas, como eram contadas entre as famílias judaicas, sobretudo, na celebração da Páscoa. Os filhos se encantavam com as maravilhas de Deus na história de seu povo. E assim, eram transmitidas, de geração em geração, a cultura religiosa e a fé no Deus da vida (cf. Ex 12).
Além de suscitar alegria e esperança, a Palavra de Deus suscita fé e caridade que transformam em paciência e cuidado, sobretudo com as pessoas em situações de risco. O cuidado é algo inerente ao ser humano, ou seja, algo que deve ser exercitado naturalmente, porém, na perspectiva evangélica estaremos vivenciando o nobre sentimento do bom samaritano: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10, 33-34).
Este cuidado nos faz olhar para além da nossa família, porque sabemos que na mesa de muitos irmãos faltam o pão e outras necessidades básicas de sobrevivência. A partilha foi o meio que Jesus encontrou para saciar a fome da multidão. “Vocês é que devem dar-lhes de comer” (Mc 6,37). Muitas pessoas dependem de pequenos gestos de solidariedade para continuar com vida, que é dom e graça de Deus.
Sabemos que Deus habita em cada pessoa “O Verbo se fez carne armou sua tenda entre nós” (Jo 1,14). Deus fazendo-se um de nós, também se fez fraco, mas “a fraqueza de Deus é mais forte que os homens” (1Cor 1,25). Neste sentido escreveu este teólogo, Teófilo Cabestrero: “No rosto de todo o ser humano sofrido pelas lágrimas ou pelas dores é que devemos descobrir o rosto de Jesus”. (Descer da Cruz os Pobres. Paulinas, 2007, p. 54).
Assim, entendemos que Deus chora com os que choram, sofre com os que sofrem, está crucificado com os crucificados, morre com os que morrem. É justamente na fraqueza que Deus manifesta o seu poder: “De fato, a linguagem da cruz é loucura para os que se perdem. Mas, para os que se salvam, para nós, é poder de Deus” (1Cor 1,18). Pelo Batismo somos participantes na Morte e Ressurreição de Jesus. Somos criaturas participantes da ação salvífica de Deus na história da criação.
A crise sem ou com precedentes gerada pela Covid-19, pode ser a última oportunidade que teremos nesta terra para assumirmos de modo individual e coletivo a responsabilidade de deixar esse mundo mais humanizado para as futuras gerações. Vamos aproveitar esse tempo que temos para planejar e poder cuidar melhor da nossa casa comum, ou seja, o nosso Planeta, tão poluído e maltratado. O que estamos passando não será uma reação do meio ambiente aos maus tratos recebidos por nós, seres humanos?
Seja como for, é momento de conversão. O mundo não poderá mais ser o mesmo após essa pandemia. Vamos aproveitar os dias de quarentena para rezar mais, refletir o que precisamos mudar. Sejamos protagonistas da construção do futuro que queremos viver. Uma nova sociedade é possível, a partir da união e do comprometimento de todos. Somos pessoas capacitadas de inteligência, portanto, a partir de agora podemos dar um outro significado, um novo sentido para a nossa existência.
Pe. Sebastião Fernandes Daniel, C.SS.R
Curvelo/MG
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