Sínodo da Amazônia
No próximo dia 27 de outubro, em Roma - IT, se realizará o Sínodo especial para a Amazônia. Pelo que tenho acompanhado das notícias veiculadas no Brasil, existe muita gente falando e, inclusive, se equivocando sobre o que seja um sínodo e, em específico, este dedicado à realidade Panamazônica. Sendo assim, caros amigos leitores, tentarei em breves linhas explicar um pouco sobre em aspectos gerais o que é um sínodo e falar um pouco sobre esta reunião que se realizará nos próximos dias.
O que é um Sínodo?
A palavra sínodo vem do grego syn-hodos, que significa em português alguma coisa como “caminho/caminhar juntos”. Tal termo pode ser aplicado a diversas realidades grupais, não somente à Igreja, que visem através de um encontro periódico ou excepcional tratar de seu caminho conjunto, discutindo questões e estabelecendo metas e estratégias conjuntas, ouvindo a todos os estratos que formam a globalidade da referida instituição. No caso da Igreja, não é muito diferente. Periodicamente ou excepcionalmente as diversas realidades de Igreja, sejam as Igrejas particulares, as regiões metropolitanas, os regionais, as conferências, os patriarcados ou a Igreja universal, realizam seus sínodos para, na colegialidade, estudar e discutir matérias que dizem respeito à sua missão diante dos mais variados públicos e culturas. Trata-se de encontrar um caminho conjunto para melhor responder às questões que continuamente a realidade, sempre em movimento, nos provoca. Sendo assim, trata-se de verdadeiro diálogo, uma coisa que infelizmente tem assustado a muitos nestes tempos estranhos em que vivemos…
Quem convoca um Sínodo?
O sínodo é convocado com bastante antecedência pela autoridade instituída na dimensão da unidade do grupo. No caso da Igreja, dependendo do grupo que é o foco deste encontro, o pároco, o bispo, o metropolita, o presidente da conferência, o patriarca ou o Papa.
Qual o caminho a ser trilhado em um Sínodo, ou seja, qual a metodologia? A forma da metodologia varia dependendo da matéria a ser discutida e quem o convoca. Mas, basicamente, é formado de cinco momentos: primeiro a convocação do sínodo estipulando datas para a realização das diversas etapas; depois a formação de uma comissão que fará a escuta de todos os estratos envolvidos, levando em consideração, inclusive, a opinião de especialistas externos, preparando um “documento de trabalho” chamado de Instrumentum Laboris; o terceiro passo consiste no estudo deste documento; o quarto passo é a reunião propriamente dita do Sínodo e a produção de um documento final em consonância com os diversos participantes; e, como último passo, a autoridade que convocou o encontro produz um texto orientativo pós-sinodal.
Sínodo da Amazônia, por quê?
Em 15 de outubro de 2017 quando o Papa Francisco convocou o Sínodo da Amazônia, assim ele se expressou sobre o objetivo central do encontro: “encontrar novos caminhos para a evangelização daquela porção do povo de Deus, em particular as pessoas indígenas, frequentemente esquecidas e sem a perspectiva de um futuro sereno, bem como por causa da crise da floresta amazônica, pulmão de fundamental importância para o nosso planeta”. Diferente do que alguns possam compreender, o sínodo não toca somente a região amazônica brasileira, mas envolve outros países como a Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela, Guiana e Guiana Francesa. Toca uma parcela da população mundial com mais de 34 milhões de habitantes divididos em 390 grupos étnicos diferentes. Além do simples fator numérico humano, naquela região se encontra mais de 20% das reservas de água doce não congelada do planeta e um dos macro biomas de fundamental importância para o equilíbrio da biodiversidade e, consequentemente, da vida no planeta. Do ponto de vista da fé, são muitas as comunidades que ainda se encontram desassistidas. Com o tema “Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e por uma ecologia integral”, claramente em linha com o documento de papa Francisco Laudato Sí, a evangelização não vem compreendida de modo simplório e redutivo como um movimento que se dá somente no interior das portas da igreja, mas se mostra muito mais amplo, pois o Reino de Deus é vida e vida em abundância para todos em todas as realidades. Assim, embora o tema seja restrito a uma parcela geográfica, seu alcance vai mais além destes limites tocando questões fundamentais que dizem respeito ao futuro da vida no planeta Terra. Resta ainda dizer que o Sínodo é ainda em processo. Faltam etapas importantes a serem realizadas. Como em um bom diálogo, se escuta primeiro para depois chegar a decisões comuns. O que se diz durante um diálogo não é nunca a palavra final. Expresse sua opinião e seja também aberto a opinião dos outros. Evite discursos extremistas que se prendem em criação de fofocas baseadas em meias-verdades ou visões unilaterais. Seja crítico com aqueles que pretendem apenas manter o confortável status quo tão cômodo, mas profundamente nocivo. E, mais importante para experiência pessoal de vida e fé, que reaprendamos a dialogar. Só os corajosos dialogam…
Pe. Maikel Pablo Dalbem, C.SS.R. Roma/Itália